Como falado no último post, as fantasias fazem parte da vida das pessoas e ajudam a compor, construir e deixar ainda mais complexa a nossa sexualidade. “Elas podem contribuir com o bem-estar do relacionamento e autoestima do indivíduo, trazendo confiança. Como elas mexem com o imaginário e o lúdico, as fantasias aumentam a criatividade e podem diminuir a tensão. Também podem ajudar a evitar a rotina”, lembra Márcio Iost, psicólogo, terapeuta sexual e parceiro do TRANSEMOS.
Quando falamos em fantasia, no entanto, muita gente faz a relação quase que automática com fetiches. Quem nunca ouviu falar, por exemplo, em pessoas que têm fixação por saltos altos, peças específicas de lingerie, algemas ou brinquedos eróticos? A grande diferença que precisa ficar clara entre fetiche e fantasia é que o fetiche está mais relacionado e dependente de um objeto ou acessório para acontecer e pode se tornar disfuncional quando a pessoa passa a colocar esse fetiche como condição para que o sexo aconteça - ele se torna regra e não exceção. Já a fantasia diz respeito a toda uma experiência - que pode envolver cenários, cheiros e situações. Assim, fetiches não são fantasias, mas algumas fantasias podem conter fetiches para sua execução.
Estar em um relacionamento onde há confiança e comunicação eficaz pode ajudar algumas pessoas a se sentirem mais confortáveis para partilhar seus desejos. Entretanto, algumas fantasias podem ser complexas, arriscadas ou ainda quase impossíveis de se colocar em prática. Algumas podem inclusive ser consideradas ética e moralmente inadequadas de acordo com algumas pessoas ou com a sociedade em que se vive.
Por isso, nem sempre vai ser possível saciar um desejo com a execução de uma fantasia e algumas delas podem ser melhores quando deixadas na imaginação. Por exemplo, se você está em um relacionamento monogâmico e não gostaria de ver sua parceria transando com outra pessoa, mas sente excitação ao imaginar a cena, provavelmente é mais garantido que a relação não seja afetada se essa fantasia permanecer apenas na sua mente. Ou ainda, pode ser compartilhada com a outra pessoa de uma maneira lúdica, provocante, sem necessariamente ter o objetivo de fazer aquilo acontecer. O faz-de-conta é bastante bem-vindo no mundo das fantasias e colocado em prática em atividades como o role playing, onde os parceiros fingem ser outras pessoas e assim podem imaginar que estão transando com desconhecidos - outra fantasia bem comum mas um tanto arriscado nesse mundo com pouca segurança.
Uma fantasia saudável é aquela que não traz sofrimento físico nem emocional para os envolvidos. Iost pontua: “Também pode ser uma situação ruim quando o parceiro acha a fantasia estranha e a pessoa pode então se sentir julgada, acabar se reprimindo. Ainda há a possibilidade da pessoa se apegar a uma fantasia e não conseguir mais sentir prazer sem ela, fora desse contexto, porque isso gera ansiedade ou estresse. Tornar-se dependente de uma fantasia afeta a busca pela liberdade sexual”.
As fantasias, além de perfeitamente naturais, podem ajudar muito tanto no autoconhecimento quando no relacionamento com outras pessoas, seja afetivo ou sexual. Compreender melhor quais são as suas e o que elas significam para você, além de saber que existem mais pessoas que compartilham destas mesmas vontades, pode ser muito útil para tornar sua vida sexual ainda mais tranquila e prazerosa.
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